segunda-feira, 4 de abril de 2011

O mais feliz dos acasos

Exatamente um ano atrás, por acaso, fui confundida com outra pessoa em uma conversa virtual. Desse (des)encontro fortuito nasceu uma história ainda um pouco inacreditável. Uma história difícil de traduzir em palavras, por mais que as palavras tenham sido, durante muitos meses, a essência de tudo, o elo que sempre nos uniu.


Entre nós, um oceano e nem sei quantos quilômetros de distância. Mas, também, um mundo de semelhanças inacreditáveis, sincronias surpreendentes e um carinho que de tão enorme parece que sufoca.


Entre vais e vens, dúvidas e impossibilidades, conseguimos enfim construir algo que de tão enorme parece irreal. Algo que de tão profundo, e ao mesmo tempo tão simples e tão verdadeiro, toma nosso cotidiano com planos e sonhos. 


Tenho certeza de que realizaremos cada plano e cada sonho, um de cada vez. 

Estou contigo, e sei que você está em mim.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Algo para calar fundo

Queria poder escrever um texto sem palavras. Um texto de silêncio, que pudesse calar fundo sobre algumas coisas que presenciamos e que temos certeza de que jamais vamos compreender.

Ontem, na noite da capital gaúcha, houve mais uma “bicicletada”: uma manifestação de um grupo de ciclistas ligado ao movimento Massa Crítica, que defende o uso da bicicleta como um meio de transporte mais democrático, ágil e sustentável. Mas, mais do que isso: o pessoal desse movimento questiona estruturas mais profundas da nossa sociedade, simbolizadas no uso agressivo dos meios de transporte (agressivo para o meio-ambiente, mas também agressivo para as pessoas). Dito de outra forma, procuram nos fazer refletir sobre as transformações que ainda ocorrem em ritmo vertiginoso à nossa volta.

Na manifestação, muitos homens e mulheres jovens, várias crianças, todos dispostos a dar algumas voltas de bicicletas pelas ruas da Cidade Baixa, bairro tradicional da capital gaúcha. E eis que um homem, deliberadamente, acelera seu carro sobre o grupo de manifestantes (que talvez fossem duzentas pessoas), atropelando cerca de quinze participantes.
Fonte: Jornal Zero Hora

É nesse momento que prefiro calar fundo. Um silêncio cheio de indignação, mas também cheio de vontade de gritar ao mundo o quanto não podemos nos manter calados. Não falem que foi acidente: ninguém acelera um carro “sem querer” em uma rua que provavelmente já estava com trânsito lento por causa da manifestação. Não me digam que o motorista foi irracional: a irracionalidade não nos permite premeditar a aceleração do automóvel, nem mesmo mirá-lo para um local específico. Não me digam, por favor, que o motorista é um louco: chamá-lo de doente só faz com que o isentemos da culpa.

Essa deliberada tentativa de assassinato em massa nos fala muito mais da nossa sociedade do que do comportamento singular desse homem. Ele é culpado? É claro que sim. Deve ser punido? É claro que sim! Mas isso deve nos servir principalmente de aviso. Um alerta-vermelho sobre o quanto nossa sociedade precisa repensar comportamentos e hábitos. Sobre o quanto ainda temos por nos indignar. Sobre o quanto, seguramente, já perdemos tempo...

Citando livremente Chico Buarque, façamos um silêncio tão doente do vizinho reclamar. E que o vizinho venha, conosco, calar fundo, estupefato, sobre essas questões. Mas que esse silêncio nunca signifique resignação. 

Como era possível ler em um cartaz carregado por crianças que integravam a manifestação: "Mais paz, mais amor. Menor motor".