"[...] Aqueles meninos e meninas não brotaram nos campos nem caíram do céu, embora muitos deles vivam num verdadeiro inferno"*
Na próxima segunda-feira, inicio minhas andanças pelo Mestrado em História Social da UFRGS. Muitos desafios estão por vir: desde a mudança de cidade, passando pelas novas exigências teóricas (que, com certeza, serão imensas), culminando com a grande tarefa de escrever um trabalho histórico sobre uma realidade recente e dolorosa de Caxias do Sul. E, o pior: vai ser um trabalho pioneiro, já que nada sobre a história das políticas públicas de correção/contenção/controle/vigilância sobre a infância e a juventude caxienses foi sistematizado até agora.
Falar de infância e juventude sob a tutela do Estado é falar, sem mais rodeios, sobre uma infância e uma juventude destituída de sua cidadania e de seus direitos mais básicos. É falar, também, em séculos de uma política meramente caritativa, com grandes vínculos com a Igreja (sobretudo a católica). E, também, é falar de um período ainda muito doloroso para o nosso país: foi durante a ditadura civil-militar de 1964-1985 que as políticas assistenciais tiveram uma remodelação extremamente autoritária. Quem não lembra da sigla FEBEM? Qual a nossa primeira sensação ao ouvir essas cinco letras juntas?
Como a autora citada acima coloca, a presença das crianças é normal, em qualquer sociedade. A presença do menino de rua, do menor abandonado, do jovem infrator não: ela é socialmente constituída. Ela é fruto da profunda desigualdade histórica, fundada em séculos de exploração e escravidão. Fruto de uma cidadania ainda negada. São o retrato nu, cru e demasiadamente humano de uma concentração de renda absurda.
Caxias do Sul também teve seu "Massacre da Candelária". Também teve seus Esquadrões da Morte, constituídos por pessoas ligadas ao poder público. Também teve "suicídios" de menores em celas da Penitenciária Industrial. Teve muros altos, cercas e privação de liberdade para jovens orfãos e abandonados.
É para poder falar de um pouco de tudo isto que vou me empenhar ao máximo durante os dois próximos anos. A História nunca consegue ser silenciada por muito tempo.
*TEVES, Nilda. Prefácio. In: VARGAS, Angelo L. S. As sementes da marginalidade. Uma análise histórica e bioecológica dos meninos de rua. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. VI
Um comentário:
É isso aí Fran, segunda a cobra começa a fumar pra todo mundo! O negócio é se jogar de cabeça pra daqui a dois anos vir a recompensa (e um olhar a defesa do outro pra depois lembrar de como as coisas começaram...hehe)
abração!
e "temo junto"!
Postar um comentário