sexta-feira, 12 de março de 2010

Desaparecidos (ainda)

 

O Brasil ainda não pagou suas dívidas com o passado. Muitas pessoas que sumiram nas mãos do terror de Estado durante décadas de chumbo da nossa história recente ainda não foram encontradas, sequer sabe-se como foram mortas, ou como "desapareceram com elas". Qualquer pequeno passo no sentido de desvelar os pontos obscuros do hiato 1964-1985 causa um alvoroço desmedido entre as Forças Armadas. Até quando?

Mas, mesmo depois de reestabelecida a democracia (obviamente, esqueçamos que não houve ruptura, que logo depois tivemos o Sarney, o Collor...), muitas pessoas continuam tendo "mortes insepultas". Em nosso tempo de barbárie, a maioria dessas vítimas não pertence à classe média, não participa de movimentos sociais, nem mesmo procura questionar o sistema político e econômico. Não são "subversivos" ou "terroristas" (nem possuem nenhum outro epíteto utilizado para mascarar a racionalização da morte e da tortura). A justificativa para esse destino? Talvez terem marcado na pele e no olhar alguns punhados de séculos de descaso e omissão. São, aos olhos dos outros, seres  "invisíveis".

As Mães de Acarí, assim como as da Plaza de Mayo, clamam ainda hoje por justiça. Por explicações. Quantas outras precisarão trilhar esses mesmos caminhos?  Procurariam elas reparações? Ou buscam por perdão? Porém, “pode-se perdoar quem não confessa seu erro? Quem concede o perdão precisa ter sido ofendido? É possível perdoar a si próprio?” (Paul Ricoeur, "A memória, a história e o esquecimento").

"As vítimas não encontradas somos todos nós
Os que não demos adeus e nem rezamos
Nos cemitérios clandestinos da justiça"

(a qualidade não está muito boa, mas vale a pena dar uma conferida).

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